Ass: Ex-psicólogo da educação, eu sai fora.
MOVIMENTO PELA SAÍDA DA PSICOLOGIA DA ÁREA DA EDUCAÇÃO
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6/07/2011 - 18h23 - Atualizado em 06/07/2011 - 18h23
Escola estadual cria 'sala dos reprovados' para adolescentes de Vila Velha
Alunos repetentes foram postos na mesma turma no colégio Marcílio Dias, em Vila Velha. Eles dizem que são discriminados
EDUARDO FACHETTI - RÁDIO CBN VITÓRIA (93,5 FM)
Relatos de perseguição e discriminação surgem num ambiente que deveria ensinar a inclusão e a igualdade. No momento em que todas as entidades ligadas à Educação discutem os desafios para promover a igualdade entre os jovens, uma escola estadual resolveu "inovar". E, com isso, o ensinamento que fica é o da exclusão. Alunos do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Marcílio Dias, que fica na Barra do Jucu, em Vila Velha, formam a chamada "sala dos reprovados".
A situação chama a atenção não só pelo inusitado, mas pelos detalhes que envolvem a formação da turma. A situação foi denunciada à Rádio CBN por uma mãe de aluno, que prefere não ser identificada. Ela teme que o filho sofra repressões por parte da direção do colégio.
"Todos os alunos lá são tachados como reprovados. Até mesmo os professores e a secretaria os classificam assim. Se você liga para lá e pede alguma informação sobre a turma, eles dizem: 'ah, é da turma dos reprovados'. No meu entender isso caracteriza uma discriminação e até mesmo bullying por parte da escola", comentou a mãe de um dos estudantes do 1º ano.
O relato vai além. Segundo a autora da denúncia, a direção da escola conhece o problema. "A escola alega que agora existe um cadastro geral no MEC e que o remanejamento não pode ser feito. Eu até já pensei em tirar meu filho dessa escola, cogitamos pedir a transferência, mas aquela é a escola mais próxima. Mas prefiro acreditar que a escola vai fazer, sim, o remanejamento desta turma", disse.
Alunos confirmam o apelido
A reportagem foi até a Escola Estadual Marcílio Dias por duas manhãs consecutivas. Neste horário estudam 230 alunos da 8ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. E todos os estudantes abordados souberam dizer, com facilidade, as características da chamada "sala dos reprovados".
Veja só o que dizem os estudantes Arthur e Ana Carolina. Os dois têm apenas 14 anos. "Eles são uns demônios. Todos que reprovaram se juntaram e virou um inferno", disse o adolescente. Ana Carolina acrescentou: "A minha sala é em frente a deles e realmente existe muita bagunça. Eles 'tacam' fogo na lixeira, cadeira nos professores, amarram cadeiras no ventilador. Coisas desse nível", disparou a aluna.
A direção da escola foi procurada. Professores, que preferem o sigilo, apresentaram à reportagem as atas de duas reuniões realizadas este ano. Dos 30 pais ou responsáveis aguardados, apenas nove apareceram. A escola disse que a formação de uma classe só de repetentes foi feita por uma espécie de sistema gerencial on-line, e que não foi uma escolha pedagógica. O problema não para por aí: no primeiro trimestre deste ano, somente cinco alunos atingiram a nota média necessária.
Além disso, segundo os professores, a turma tem sérios problemas disciplinares. Nas últimas semanas, alunos da "sala dos reprovados" amarraram cordas no ventilador e nas carteiras e ligaram o equipamento. Há alguns dias, um tubo de cola branca foi espalhado na lousa. As infrações são confirmadas pelos estudantes, que não serão identificados para evitar constrangimento.
"Eles cortam a alça das mochilas dos colegas, colocam fogo no armário, amarram cordas no ventilador e jogam cadeiras nos professores. É muito difícil estudar nessa sala, porque quem tem interesse não consegue aprender. É muito ruim, porque alguns professores nos tratam com diferença. É uma situação ruim pra caramba", disse um aluno.
Na "sala dos reprovados", há quem se sinta perseguido pelos professores. "Tudo que acontece na escola é culpa da minha turma. A gente é sempre discriminado e isso não é legal. A turma realmente não é fácil, tem meninos que aprontam e a culpa acaba recaindo sobre todos. Há alunos de outras salas que vêm, provocam, e a gente acaba ficando com a culpa", destacou uma aluna de 16 anos.
Rótulos podem reforçar mau comportamento
Segundo a consultora educacional e presidente do Centro de Estudos do Bullying Escolar do Distrito Federal, Cléo Fante, o que ocorre na Escola Estadual Marcílio Dias não caracteriza bullying, conforme acusou a mãe de um dos alunos. A especialista diz que, por se tratar de uma relação envolvendo professores, diretores e estudantes, o que se observa ali é um grave caso de rotulagem.
"Isso é uma falta de respeito muito grande contra o grupo. A criação do rótulo dos reprovados configura a criação de um estereótipo, mas isso não é bullying", salientou Cléo, que veio ao Espírito Santo esta semana para participar de uma sessão especial na Assembleia Legislativa sobre violência na escola e a prática de bullying.
Cléo destacou, ainda, que enquanto algumas vítimas de bullying e assédio moral reagem com quadros de depressão e distanciamento social, outras acabam se tornando mais agressivas. "Claro que não vamos pensar que toda turma terá esse comportamento, mas alguns tendem a reproduzir aquilo que estão sofrendo e fazer juz aos rótulos que tiveram. Há probabilidade de que haja comportamento agressivo, por parte de alguns, contra professores e alunos. É um sinal de protesto", afirmou.
Disponível em: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/07/noticias/especiais/897252-escola-estadual-cria-sala-dos-reprovados-para-adolescentes-de-vila-velha.html
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